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História da Rádio

História do Rádio em Ouro Fino

(Conforme narração do radialista José Silva)

Corria o ano de 1950. Numa pequena sala, no segundo pavimento do prédio onde hoje se situa o BEMGE, funcionava um bem montado Serviço de Alto-Falantes de propriedade do Sr. Vitório Luiz Negri.

Entre os locutores, um deles era eu. Certo dia o Negri disse-me com muito entusiasmo: Vou montar uma emissora de rádio em Ouro Fino. O que você acha da ideia? Meio cético, respondi-lhe: seria ótimo!

Mas, pensei cá comigo. Montar uma estação de rádio! Seria viável esse empreendimento? Certamente teria que se conseguir uma razoável quantia; e vencer os entraves burocráticos, também não deveria ser tarefa muito fácil.

Porém tudo foi resolvido, pois o autor da ideia havia pensado em todos os detalhes: como conseguir o dinheiro e como obter a concessão. Elaborou uma lista cujas pessoas tinham possibilidades de adquirir cotas que totalizassem o montante suficiente para que seu sonho se tornasse realidade. Concluímos os planos e estudos, fomos a procura dos “SORTEADOS”. E a importância necessária foi facilmente conseguida.

“ESTAVA DADO O PRIMEIRO PASSO PARA A GRANDE CONQUISTA”

Lembro-me ainda do júbilo dos cotistas. Afinal era um privilégio, já que naquele tempo poucas cidades do interior possuíam estação de rádio, especialmente nas imediações de Ouro Fino – tanto nas cidades mineiras como paulistas – eram raras as localidades que podiam se orgulhar de possuir esse extraordinário veículo de comunicação.

Em virtude disso, a instalação da emissora constituiu-se num acontecimento dos mais relevantes. Das classes mais humildes à mais alta sociedade, todos queriam ver de perto como funcionava o engenhoso invento. Criou-se então um LIVRO DE VISITANTES e logo em seguida, um outro foi criado a fim de se conseguir meios para ampliar a discoteca. Esse último, as pessoas eram procuradas, e de acordo com suas posses, ou sua vontade, assinavam o livro para sua doação.

Não muito depois outra Empresa Radiofônica aqui se instalou, todavia pouca influência exerceu sobre a já existente, pois os primeiros anos de atividade da Difusora foram coroados de pleno êxito, apesar dos anunciantes da época (com raras exceções) terem uma visão bem diferente do real significado da publicidade. O certo é que quase todo ourofinense não desejava outra coisa senão o sucesso da iniciativa.

Quando chegávamos em uma casa comercial solicitando uma propaganda, o argumento era sempre o mesmo: “faço sim, pois também quero colaborar com nossa rádio”. Eram poucos os comerciantes que acreditavam que investir em publicidade era um negocio que lhe assegurava um retorno rápido, seguro e vantajoso. Hoje, felizmente, essa mentalidade mudou, o anunciante já se conscientizou da importância da propaganda.

Com relação às transmissões externas, só Deus sabe as dificuldades, já que as condições eletrônicas daquele tempo eram tão precárias que mesmo as grandes emissoras não dispunham de recursos técnicos para um trabalho perfeito – imaginem as modestas emissoras do interior!

Mesmo assim dávamos cobertura a tudo que fosse de interesse dos ouvintes, com grande sacrifício, é verdade, mas nos eventos de maior importância, a Difusora sempre marcava presença, fossem cívicos, esportivos, políticos, ou religiosos; e até nas festas de formatura lá estávamos de microfone em punho. Grandes promoções artísticas foram proporcionadas pelas emissoras locais.

Cantores em grande evidência na década de 50, como Francisco Carlos, Neusa Maria, Emilinha Borba, as Irmãs Galvão; atores da categoria de Celso Guimarães, Viviani e muitos e muitos outros renomados nomes do mundo artístico, aqui se apresentaram.

Mantivemos por longo período um programa de auditório, Infanto-Juvenil, onde participavam crianças e jovens de todo o seguimento da sociedade ourofinense, isto aos domingos, na parte da manhã, e à tarde, a saudosa Nhá Gabriela apresentava, com invulgar brilhantismo, um PROGRAMA SERTANEJO com a participação dos mais destacados amadores de Ouro Fino e região.

Por vários anos consecutivos a rádio promoveu o NATAL DAS CRIANÇAS POBRES e participou de outros movimentos filantrópicos, entre eles encabeçou um trabalho de fôlego em prol da Santa Casa local, cujo resultado financeiro foi dos mais auspiciosos.

Mas se no transcurso desses anos todos teve fase de grande prestígio e popularidade, passou também períodos de imensas dificuldades, exigindo pulso forte de seus responsáveis (ou responsável) a fim de que não tivesse o destino de sua co-irmã que de há muito deixou de existir.

A exemplo das grandes emissoras, tínhamos também o nosso rádio-teatro. Para tanto contávamos com uma equipe dedicada que não media esforços para desempenhar a árdua tarefa, principalmente, pelas dificuldades existentes com os efeitos sonoros que cada pela exigia. Era tudo na base da boa vontade, graças ao amor a arte, não fosse isso as dificuldades não seriam superadas.

Em uma das fases difíceis da emissora, não foram poucos os que ajudaram para sua reabilitação, todavia, justiça se faz, que citemos pelo menos três pessoas que desempenharam papel preponderante a fim de que nossa Difusora desfrutasse da importância que representa para a comunidade ourofinense: os Prefeitos, senhores Sebastião Favilla e Sebastião de Assis e o jornalista Milton Lucca de Paula.

Nesse relato considero importante dizer que no mesmo ano (1950), Assís Chateaubriand monta em São Paulo a primeira estação de TV (a pioneira do Brasil). A essa altura o dinâmico jornalista já possuía um verdadeiro IMPÉRIO NA ÁREA DE COMUNICAÇÃO.Mantinha sob seu controle os DIÁRIOS ASSOCIADOS, com jornais de grande circulação no país e uma rede de emissoras nas mais importantes capitais brasileiras. Entretanto, o advento da televisão em nada abalou o prestígio do rádio, já que o raio de ação da TV restringia-se à capital paulista e algumas cidades próximas à São Paulo.

Passados alguns anos o próprio Chateaubriand instalou novos canais de televisão em outras capitais e só bem depois foi possível alcançar as cidades do interior, mas mesmo assim o rádio ainda hoje é o meio de comunicação mais importante no Brasil, mantém incontestável supremacia, conforme comprovam abalizadas pesquisas e estatísticas, mesmo levando-se em conta o elevado número de TV’s em todo o território nacional.

Deve-se destacar, entretanto que essa supremacia só foi possível graças à descoberta do transistor que possibilitou o surgimento de pequenos aparelhos receptores, pois além de funcionar à pilha com absoluta perfeição, pode ser transportado com facilidade, sem acarretar nenhum incômodo a seu portador. E não seria exagero se falássemos que esses radinhos encontram-se por toda parte, sejam nos centros comerciais, ou nos mais longínquos rincões de nossa pátria, onde jamais existiu energia elétrica, daí não ser difícil avaliar que o rádio supera com grande vantagem, em audiência, esta maravilha que é a televisão.

No decorrer dessa longa caminhada, como não podia deixar de ser, muita coisa aconteceu: histórias pitorescas, momentos de grande alegria, períodos de desalento e de crises quase insuperáveis. Mas sobre isso já falamos. Falemos agora de algumas curiosidades e fatos que reputamos históricos.

A Razão Social primitiva é a mesma de hoje:
RÁDIO DIFUSORA OURO FINO LTDA.

Teve seu primeiro estúdio na Rua 13 de Maio, 643, num prédio com amplo salão e ótimo palco. Operava na faixa de 680 quilociclos, prefixo ZYV – 23, ondas médias e potência de 100 watts. Sua inauguração oficial aconteceu a 25 de novembro de 1950.

Hoje a denominação é KHz. E não quilociclos (num preito à memória do físico alemão, RUDOLF HERTZ), um estudioso das ondas eletromagnéticas que possibilitou a invenção do rádio.

Algum tempo depois da instalação da Rádio Difusora foi criado o DENTEL (Departamento Nacional de Telecomunicações), órgão subordinado ao Ministério das Comunicações, com Departamentos Regionais, que tem entre outras finalidades, a função de fiscalizar, orientar, e se possível, solucionar problemas pertinentes às emissoras de Rádio e televisão.

Por volta dos anos 60, mais ou menos, o Dentel elaborou um NOVO PLANO DE RÁDIO DIFUSÃO, ocasionando significativas mudanças nas emissoras brasileiras. A Difusora, por exemplo, passou a operar em 1.450 KHz, sua potência e horário foram ampliados e o prefixo que antes era ZYV – 23, mudou para ZYL – 270, (horário ilimitado e maior potência, foi por solicitação da própria emissora).

Funciona hoje em prédio próprio, com instalações amplas e modernas, ostentando em sua fachada um belo luminoso que a identifica à longa distância. Acompanhando o avanço da tecnologia eletrônica, possui o que existe de mais moderno em aparelhagem, assegurando a seus ouvintes ótima qualidade de som. A par disso com Diretores dedicados de alta categoria, excelente assessoria técnica e uma equipe de funcionários experiente e capacitada, resultando daí uma programação do mais alto nível.

Seu primeiro gerente e quem teve a feliz ideia de montar uma estação de rádio em Ouro Fino, foi o Sr. Vitorio Luiz Negri.
Orquidéia, uma jovem e graciosa ruivinha, residente em nossa cidade, mas não ourofinense, foi a primeira locutora.
Desnecessário seria dizer quem teria sido o primeiro locutor, pois creio estar bem evidente que outro não foi senão o modesto relator deste despretensioso trabalho.

 

O PRIMEIRO DISCO

Lembro-me, sem o menor receio de erro, da primeira gravação rodada na Difusora – isto mesmo antes que estivesse concluída a montagem do estúdio – era um 78 rotações (naquele tempo o único sistema existente), gravado por Silvio Caldas, contendo em um face: “BOA NOITE, AMOR” e na outra: “A SAUDADE”.

Pra mim que acompanhei de perto desde a instalação da Difusora até os dias atuais, creio que valeu a pena todo esforço que empreendemos, enfrentando toda sorte de obstáculos que surgiam em nosso dia a dia para que nossa emissora desfrutasse do indiscutível conceito de que hoje desfruta.

 

 

 

Portanto, eis aí, em síntese, a

HISTÓRIA DO RÁDIO EM OURO FINO.

 

Ouro Fino, novembro de 1986.

 

J. S.

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