Dezembro Verde: Protetora Sandra Luz alerta sobre maus-tratos, abandono e necessidade de políticas públicas em Ouro Fino
Em entrevista ao Programa Espaço Livre, voluntária da ONG Alquimia destaca avanços, desafios e urgência de ações do poder público para proteção dos animais no município.
No Programa Espaço Livre desta semana, a repórter Gabrièlle de Faria entrevistou a protetora dos animais Sandra Luz, voluntária da ONG Alquimia – Associação Amigos dos Animais de Ouro Fino. A conversa reforça a importância do Dezembro Verde, mês dedicado à conscientização sobre o abandono e os maus-tratos aos animais, e traz um panorama detalhado da situação no município.
Situação em Ouro Fino: avanços e desafios
Sandra lembrou que, há mais de 20 anos, quando um grupo de voluntários começou a se mobilizar para fundar uma ONG na cidade, o cenário era extremamente grave. Com o tempo, a divulgação das leis, campanhas de conscientização e a atuação da própria Rádio Difusora contribuíram para melhorias. No entanto, segundo a protetora, ainda há muito a ser feito.
Ela destaca que o problema central é a falta de conscientização. “Animal na rua é também uma questão de saúde pública. Não é só dó. É social, é coletivo”, afirma. Entre as formas de maus-tratos estão o abandono, a falta de alimentação adequada, ausência de vacinação e de acompanhamento veterinário, além do uso excessivo de animais para trabalho — como cavalos e bois — e violência contra animais silvestres.
Casos recentes e violência contra animais silvestres
Sandra citou um caso que chocou a comunidade: a morte de um gambá, apedrejado próximo ao Parque Ecológico do Asilo. A fêmea carregava filhotes na bolsa. “É covardia. Esses animais têm papel essencial no equilíbrio ambiental, controlam pragas como escorpiões e ratos”, explicou. A ONG tenta identificar o responsável através de câmeras na região.
Também são frequentes os relatos de violência contra lagartos, calangos e outros animais silvestres, muitas vezes mortos simplesmente por preconceito ou desinformação.
Envenenamento e denúncias
Outro problema comum em Ouro Fino é o envenenamento de animais, geralmente associado a conflitos de vizinhança. Sandra orienta que, em casos assim, a população deve registrar Boletim de Ocorrência e representar na Polícia Civil. “Quando o promotor vê a enorme quantidade de denúncias, percebe que é um problema grave, e isso pesa para que medidas sejam tomadas”, destaca.
Leis e responsabilidades do poder público
Durante a entrevista, Sandra explicou pontos importantes da legislação. Decretos federais de 1934 e o artigo 225 da Constituição Federal já tratam da proteção ambiental. A legislação mais recente, de 2016, reforça que compete ao município implementar ações de proteção, prevenção e punição em casos de abandono e maus-tratos.
Entre as obrigações do poder público municipal estão:
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Implantar campanhas permanentes de castração;
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Identificar e controlar a população de cães e gatos;
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Promover ações de conscientização;
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Disponibilizar dispositivos de identificação (eletrônicos ou coleiras);
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Criar um espaço oficial para acolhimento e triagem de animais perdidos ou vítimas de abuso.
Sandra também lembrou que já existe uma lei que prevê a criação do Conselho Municipal de Proteção Animal e de um fundo para ações de amparo, mas nada foi implementado até o momento.
O problema das “saídinhas” e acidentes
A protetora destacou que soltar o animal para “dar uma voltinha” é uma forma de maus-tratos, pois coloca o pet em risco de atropelamentos, brigas e acidentes. A lei municipal prevê multa para a prática, mas, segundo ela, falta fiscalização efetiva.
Foguetes e impactos nos animais
O uso de fogos de artifício de alto impacto sonoro é outro problema que afeta não só animais domésticos e silvestres, mas também pessoas idosas, enfermas e autistas. No último fim de semana, relatos de cães perdidos e aves assustadas se multiplicaram nas redes sociais. Sandra defende a retomada do projeto que proíbe fogos com estampido no perímetro urbano.
O trabalho da ONG Alquimia
Sem apoio financeiro público, a ONG Alquimia mantém um bazar beneficente, que ajuda a custear atendimentos veterinários. “Recentemente pagamos R$ 640 em uma cirurgia de um cachorrinho com tumor na pata, tudo com o dinheiro do bazar”, contou Sandra.
O bazar funciona diariamente das 10h às 18h (com intervalo de almoço das 12h às 13h) e aos sábados pela manhã, em frente à Cacau Show.
Conscientização é a chave
Ao final da entrevista, Sandra reforçou que maus-tratos e abandono são crimes e pediu que a população se informe sobre as leis e pratique a responsabilidade com seus animais. Ela também espera que, já em 2026, o município avance na criação do espaço de acolhimento, intensifique as castrações e implemente políticas públicas efetivas.
Assista a entrevista completa: