Morre uma das maiores lendas do Rodeio
WALDEMAR RUY DOS SANTOS O CAPITÃO ASA BRANCA
Waldemar Ruy dos Santos (Turiúba, 19 de abril de 1962 )
Asa Branca, foi um locutor profissional de rodeios e cantor brasileiro. Considerado um dos mais notórios locutores de rodeios do país.
Começou a carreira com peão de rodeio, Asa desistiu de ser peão após ser pisoteado por um touro em 1984
Ícone, Asa Branca inovou ao transformar rodeio em show
Locutor se tornou celebridade.
O auge aconteceu nos anos 1990, quando ele chegava a eventos como a Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos em helicópteros, saltando de paraquedas ou em tirolesas.
Já narrou montarias dentro de camionetes em movimento e até mesmo em cima de cavalos.
Waldemar Ruy dos Santos, o Asa Branca, inovou o estilo de narrar ao descer do palco e ficar dentro das arenas de rodeios.
Tudo isso foi possível por Asa Branca —apelido recebido por ter hábito de aprisionar pássaros— ele descobriu na década de 80 o microfone sem fio, quando limpava cocheiras no Texas (EUA).
Era coisa de outro mundo, disse ele.
Com a fama e o dinheiro chegaram também os símbolos de autodestruição que vez ou outra atingem artistas: noitadas e abuso de bebidas, drogas e sexo.
Conseguia ganhar até R$ 1 milhão em cachês em um único mês, mas gastava com fretamentos de aviões e helicópteros, mulheres, muitas garrafas de uísque e cocaína.
chegou a dizer ter perdido R$ 10 milhões com farras
Se fora das arenas os excessos consumiam o patrimônio —
Dentro Asa Branca era o principal símbolo da mudança pelas quais os rodeios passavam e que resultaram na profissionalização da prática no país.
Era a época da internacionalização do rodeio de Barretos (1993), do real valorizado (1994), de peão brasileiro sendo campeão mundial (Adriano Moraes, em 1994) e da entrada de country, rock e disco como trilha sonora nas festas de peão. Saía de cena o caipira, entrava em ação o Cowboy.
Asa Branca soube montar nesse cavalo que passava arreado como ninguém: propagou versos de rodeios e refrões nas arenas, gravou CDs, era figura fácil em programas de TV, namorou famosas e fez aparições em novelas.
Essa nova identidade de comunicação sertaneja implantada pelo locutor fez escola, o que acabou por impulsionar o próprio nome de Asa Branca como o líder de um segmento e alvo de reverência de peões e público.
SAÚDE
A vida desregrada do locutor, que a essa altura da carreira já chegava a faltar a compromissos assumidos, teve novo capítulo em 1999, ano apontado por ele como o em que contraiu HIV de uma ex-namorada. Mas esse não foi o único problema de saúde que afetaria o locutor nos anos seguintes.
Oficialmente, a doença só foi descoberta em 2007, quando Asa Branca passou mal ao narrar um rodeio em Unaí (MG). No mesmo ano, foi internado numa clínica de reabilitação para tratar a dependência da cocaína.
Já em 2013, uma neurocriptococose —doença do pombo— fez com que perdesse muito peso, ficasse internado cerca de três meses, passasse por seis cirurgias e quase morresse. Depois vieram meningite e hidrocefalia.
Ainda tentou voltar ao mundo das festas de peão em pequenos eventos, que em nada se assemelhavam aos glamorosos rodeios que distribuem premiação próxima a R$ 1 milhão.
Mas a voz já não era a mesma de antes —grave e forte—, tampouco o fôlego.
VETO
Mesmo longe das arenas dos principais eventos, era figura constante nas ruas do Parque do Peão de Barretos, onde era parado por fãs em busca de selfies e ouvia as lembranças que cada um tinha dos anos em que ele dominava as narrações.
Uma das histórias que gostava de contar sobre a principal festa do gênero no país é a de quando, em 1994, apresentou Fernando Henrique Cardoso como Futuro Presidente do Brasil ao público presente no estádio de rodeios, sem conhecimento da organização, a menos de dois meses da eleição presidencial.
A direção de Os Independentes, que promove o evento de Barretos, disse à época que Asa Branca traiu a confiança recebida e estaria fora da locução da final do rodeio internacional - por ter transformado a festa em propaganda política.
Se eu for punido, será com prazer porque o FHC merece, disse, então, o locutor.
Em 2001, o ex-presidente sancionou lei que transformou o peão de rodeio em atleta, com garantia de seguro de saúde e previdência social e, no ano seguinte, assinou lei que regulamentou rodeios e estabeleceu normas sanitárias para proteger os animais.
ARREPENDIMENTO
Há dois anos, o locutor recebeu diagnóstico de câncer na mandíbula e garganta. O tumor chegou a regredir, mas a doença voltou em 2019, atingindo também a base da boca e dificultando cada vez mais a fala.
Nos últimos meses, Asa Branca passou a dar entrevistas criticando os rodeios e afirmando que a prática gera maus-tratos aos animais. Via como uma tentativa de se redimir.
Todo dia, antes de dormir, eu peço perdão para Deus se eu incentivei a maltratar os animais, disse.
Outros dois arrependimentos do passado que afirmava ter são os do uso de cocaína e o gasto desmedido de dinheiro. Das baladas e da mulherada eu não me arrependo.
Asa branca faleceu na terça-feira (4), aos 57, no Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira), onde estava internado desde o dia 14 de janeiro.
Deixa a mulher, Sandra, com quem era casado havia 11 anos, e filhos.
O corpo de Asa Branca, famoso locutor de rodeios, foi velado na Assembleia Legislativa de São Paulo.
O corpo foi sepultamento em Turiuba, no interior de São Paulo, cidade natal do locutor.