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Segunda, 04 de Setembro de 2023 08:50

Secos e Molhados, Revolucionários e Eternos!

                                                           Jurei mentiras e sigo sozinho....
                                                                  Assumo os pecados...
                                                  Os ventos do norte não movem moinhos..
                                                       E o que me resta é só um gemido..

Em 2023, um dos álbuns mais emblemáticos da Música Popular Brasileira completa 50 anos. Estou me referindo ao clássico disco de estreia dos Secos e Molhados. Banda formada por Ney Matogrosso, João Ricardo e Gérson Conrad.

                                                                                                                       FOTO:DIVULGAÇÃO

Gravado entre maio e junho de 1973, nos Estúdios Prova em São Paulo e lançado oficialmente em agosto do mesmo ano. O álbum foi um verdadeiro marco na música brasileira, seja pelas belas músicas com letras inteligentes com um certo teor político ou pelas maquiagens usadas pelos seus integrantes. O álbum também é marcado por outras características como, por exemplo: a utilização das poesias de Vinícius de Moraes, Manuel Bandeira e João Apolinário. João Ricardo, fundador do grupo, nasceu em Portugal, por esse motivo podemos observar a influência da cultura portuguesa em certas músicas como a clássica: "O Vira".


                    Secos e Molhados na TV Tupi/1973.

O álbum Secos e Molhados nasceu em um momento conturbado da história recente do Brasil, o auge da ditadura militar brasileira. Sendo assim, certas músicas contém um certo viés contestador, verdadeiros protestos contra os militares, com ótimo senso crítico e inteligência, é claro!

Assim Assado, por exemplo, é uma crítica ao autoritarismo e violência da polícia, especialmente contra os negros. Mulher Barriguda é um lamento aos tempos de repressão, porém, com um tom de esperança na sua letra: 

                                                      Mulher barriguda que vai ter menino......
                                                            Qual o destino que ele vai ter?
                                                           Que será ele quando crescer?
                                                                    Haverá guerra ainda?
                                                                       Tomara que não.....
                                                                       Mulher barriguda...
                                                                      Tomara que não.....

                      Mulher Barriguda-1973/Continental

O álbum ainda traz outras músicas que se tornariam verdadeiros clássicos da MPB, tais músicas são representadas por: "Sangue Latino", "Rosa de Hiroshima"e "O Patrão Nosso de Cada Dia". 


Secos e Molhados e a clássica "Sangue Latino"-1973/TV TUPI.

Outro fator importante é a capa do álbum, a mesma se tornou tão importante e clássica quanto as próprias músicas do disco. Na arte da capa, o fotografo do Jornal Última Hora, Antônio Carlos Rodrigues, produziu uma mesa de jantar com alguns alimentos, como, por exemplo: broas, linguiças, cebolas e vinho, além de algumas bandejas, onde estão as cabeças dos integrantes dos Secos e Molhados. Incluindo Marcelo Frias"baterista que não aceitou ser integrante do grupo".

                                                             Secos e Molhados-1973/Continental

O álbum foi lançado em 06 agosto de 1973, e a sua festa de laçamento aconteceu no Teatro Aquarius, em São Paulo. E foi um grande recorde para a indústria fonográfica brasileira: o disco vendeu mais de 300 mil cópias em apenas 60 dias. O álbum também foi lançado em Portugal, México e na Argentina. Em menos de um ano o disco de estreia dos Secos e molhados chegou a marca de 1 milhão de cópias.

"A gravadora achou que venderia 1.500 em um ano. Vendeu em uma semana. Como o mercado vivia uma crise de vinil, a gravadora começou a pegar os discos que não estavam vendendo e derreter para fazer o nosso." — Ney Matagrosso, 2003.  

Secos e Molhados é um daqueles álbuns obrigatórios para a formação musical e cultural de qualquer pessoa apaixonada por música, especialmente a nossa MPB. Um disco atemporal, inteligente e muito corajoso, afinal, o álbum foi um tapa na cara dos militares e da sociedade conservadora da época.


Faixas:
1) Sangue Latino
2) O Vira
3) O Patrão Nosso de Cada Dia
4) Amor
5) Primavera Nos Dentes
6) Assim Assado
7) Mulher Barriguda
8) El Rey
9) Rosa de Hiroshima
10) Prece Cósmica
11) Rondó do Capitão
12) As Andorinhas 
13) Fala

Gravadora: Continental (LP)/WEA (CD)
Produtor: Moracy do Val (LP)/Charles Gavin (CD)
Formatos: LP (1973) / CD (1999)
Lançamento: 1973

Colunista
Welker Magalhães, também conhecido como Kim reside em Belo Horizonte, onde estuda jornalismo, uma de suas paixões, mas desde criança sempre alimentou sua grande paixão: a música. Assim, começou acompanhando o mercado musical pelas FMs de BH, pelas lojas de CDs e após os 18, pelas noites dos circuitos de músicos mineiros e pelos shows nacionais e internacionais que sempre passam pela capital mineira. A música também acompanha seu outro bom gosto: a literatura.
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